Carol Canabarro
Envolvida em espessa escuridão, o mundo pesava sobre minhas costas e eu sufocava em água densa. Quanto mais me movia, maior a agonia de não ter para onde ir ou no que segurar. Sozinha, encontrei uma corda. Talvez fosse esse o caminho. Enrosquei nela o pescoço, na esperança de arrancar o grito áspero da boca. As pessoas me chamavam e eu, sem saber como ou o que responder, me calava como mar congelado. Queriam mais de mim do que eu podia dar. Tudo o que era e tinha existia naquela pequena jaula, e me bastava.
O pulsar das paredes pressionava pele, carne, ossos. A corda encurtando as voltas me forçava a decidir: era hora de partir.
Esvaziada de energia, oprimida por uma vida em que já não mais cabia, num mundo que insistia em não me aceitar, cansada de falar e ninguém ouvir, lancei-me. Atravessei espaço e tempo carregando medo e dor. O peito espremido expulsou dos pulmões o líquido que antes era vida. E, no choro compulsório, com uma única palmada, nasci.