Carol Canabarro
— Finalmente! Por onde você andava, Neco?
— Dia, patrão. Tava marmitando.
— Peão sempre tem uma desculpa pra fugir do serviço. Quando não é cachaça é preguiça. E que porcaria é isso?
— Esse aqui? Me seguiu desde lá do ponto hoje de manhã, todo desgraçado. Vou levar pra casa e cuidar do pobrezinho. Tô pensando em chamar de Tijolo. Cadinha, certeza, vai chiar, mas a molecada vai ficar faceira.
— E eu lá quero saber? Tira esse cusco daqui. Imagina se os Sampaios vêm até a obra agora? Não bastasse o problema no deck, ainda isso.
— Quê que deu no deck, patrão?
— Eles inventaram de mudar a iluminação da varanda. Você vai ter que passar a fiação por baixo da madeira. Tem que desmanchar, passar os cabos e refazer o deck. Para ontem!
— Se avexe não. Tudo tem jeito.
— Não me vem com enjambração, Neco. Deixa de ser vadio.
— Vou resolver, patrão.
— Ah, vai. Vou pegar um café, falar com o paisagista e volto para resolver isso o mais depressa possível. E tira esse animal da minha vista.
— Neco? Neco! Que mágica você fez? Como que o deck já está pronto?
— Fácil. Tirei as tábuas das pontas, enrolei o cabo no pescoço do cachorro, de leve pra não machucar, botei o danado de um lado e chamei do outro com o osso que sobrou do almoço. Ele fez o resto.
— Engenhoso. Pra burro você não serve.
— Brigado, patrão. Acho até que vou dar outro nome pra ele.