Carol Canabarro
Quando ela chegou, os móveis estavam fora do lugar, as roupas e alguns papeis espalhados em cima da cama.
Detesto visita surpresa (quem gosta?), ainda mais em momentos assim, mas não pude e nem quis evitar. Afastei duas caixas e sentei para recebê-la.
A última vez que pousei meus olhos sobre ela foi no ano 2000. Era justo pausar o mundo para ouvi-la.
"Carol ou Caroline", ela perguntou. Tinha esquecido como, mesmo aos 17 anos, ela podia ser gentil e irônica. Não precisei mais do que quinze piscadas para atualizá-la da vida. Pude ouvir de sua voz rouca: “eu estava lá”.
Era eu quem tinha esquecido dela.
Sagaz, entre uma pergunta e outra, ela disse a que veio: "e o nosso livro, escreveu?". Pela primeira, vez em muito tempo, enchi os olhos de água doce. Ela sorriu com o nariz pra cima.
Em seguida, disse para eu não ter pressa “tudo tem o tempo certo”. Falei que era sábia?
A conversa fluiu como deve ser entre duas pessoas que, apesar de não se verem a muito tempo, se amam. Duas páginas depois, do mesmo jeito que chegou, foi embora.
Arrumei os móveis, dobrei as roupas e organizei os pensamentos. A próxima coisa a fazer me pareceu óbvia. Papel e caneta em mãos, agendei nosso próximo encontro: escrevi uma carta não para minha versão do passado, mas para a Carol de 46 anos.